Visibilidade lésbica foi tema de seminário na OAB Paraná

A OAB Paraná sediou na noite de quinta-feira (16) o seminário “Resistência em foco: a transformação do luto em luta e lesbianidades”, organizado pela Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB Paraná. O evento teve como convidadas especiais as ativistas Mônica Benício, arquiteta e viúva da vereadora Marielle Franco, e Heliana Hemetério dos Santos, historiadora, vice-presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e representante do segmento LGBTI no Conselho Nacional de Saúde.

A secretária da Comissão de Diversidade Sexual, Ananda Puchta, mediou os debates sobre as dificuldades da vida cotidiana das mulheres lésbicas, por conta da invisibilidade e do preconceito. Ananda destacou a importância do evento ser realizado no espaço da OAB. “A OAB tem peso grande na defesa de direitos e é importante que as mulheres lésbicas estejam aqui, demandando da Ordem dos Advogados o que é preciso ser feito para a conquista de seus direitos”, disse.

Resistência

Mônica Benício também atestou a participação da Ordem dos Advogados na defesa da diversidade de gênero. “A OAB tem uma importância simbólica na construção das pautas sobre o controle dos nossos corpos e no reconhecimento da força desse momento”, disse.

Mônica Benício destacou o papel da militância para a afirmação do movimento. “É fundamental que sejamos militantes, pois hoje, neste país, ser mulher lésbica é ser resistente”, ressaltou, lembrando que a vulnerabilidade é ainda maior quando se trata da mulher negra.

Para Mônica, o dia do assassinato da vereadora Marielle Franco é um divisor de águas. “O 14 de março é muito simbólico para a nossa história, pois acaba sendo um divisor de águas, não só pela execução brutal de Marielle, mas por tudo o que ela representava politicamente, sendo mulher, negra, favelada, lésbica e parlamentar democraticamente eleita. Isso não surpreende quando entendemos a história de racismo deste país”, disse. Para Mônica, o resultado das investigações sobre a morte da vereadora e do motorista Anderson Gomes não é só uma resposta a um crime hediondo. “É uma resposta que tem que ser dada para garantir a nossa democracia, pois o que aconteceu foi uma prova de que estamos caminhando a passos largos em direção à barbárie”, afirmou.

Histórico

Consultora das Comissões de Estudos de Violência de Gênero e de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB Paraná, Heliana Hemetério apresentou um panorama do movimento, a partir de sua própria experiência. Aos 65 anos, a historiadora dedicou grande parte de sua trajetória à militância social, engajando-se inicialmente nas causas feministas e das mulheres negras, e depois da população LGBTI.

“Na minha história de vida enfrentei uma série de lutas. Eu me levanto e tenho que fazer o enfrentamento racial, o enfrentamento da lesbofobia, tenho dizer que é um direito meu ser mulher, lésbica, mãe, avó e de religião afrobrasileira”, relatou.

Heliana contou que o primeiro Seminário Nacional de Lésbicas aconteceu em 1996, no Rio de Janeiro, e naquele momento a discussão já se dava em torno da necessidade do movimento se tornar visível, pois ainda estava aquém da visibilidade existente em relação aos gays. “Depois desse fizemos vários outros e as pautas foram se ampliando para a construção de políticas públicas”, explicou.

Um dos aspectos abordados por Heliana foi em relação ao casamento. “Não conseguimos desconstruir a heteronormatividade do sistema e incorremos no grande erro de construir um casamento heteronormativo dentro da lesbianidade. Ainda não encontramos o nosso equilíbrio e isso é um grande desafio para nós”, enfatizou.

O seminário teve início na quarta-feira e a primeira mesa de debates foi realizada no Salão Nobre da Faculdade de Direito da UFPR. Também participaram a professora Ângela Fonseca, pesquisadora de pós-doutorado pela UFPR , e a professora Andressa Regina Bissolotti dos Santos, doutoranda pela UFPR e membro da CDSG.

Confira a íntegra do debate “Resistência em Foco: a transformação do luto em luta e lesbianidades” aqui. 

Veja também as discussões do primeiro dia do evento.