O painel “Diversidade – Mulheres em mil versões” deu sequência à programação da Conferência Estadual da Mulher Advogada na manhã desta sexta-feira (29/9), com debates sobre letramento racial, etarismo, gênero e os desafios das pessoas com deficiência. Coube à conselheira estadual Andréia Vitor a apresentação dos temas e palestrantes.
“Reconhecemos que cada mulher é única, com suas próprias versões e jornadas. Exercemos um papel significativo no direito, contribuímos para a justiça e a equidade. Hoje nos encontramos em posições de destaque em organizações, influenciando de maneira positiva no ordenamento jurídico. No entanto, estamos cientes da questão do letramento racial. Se refere à capacidade de reconhecer e abordar as questões relacionadas ao racismo”, disse Andréia, ao chamar a primeira palestrante ao diálogo.
O tema foi abordado pela advogada Nubia de Paula, conselheira federal da OAB-MG. “Letramento racial nada mais é do que uma desconstrução, uma educação para o entendimento de questões raciais e étnicas. A partir dele, compreendemos que o racismo existe e que a raça só persiste por causa do racismo”, afirmou.
Nubia de Paula apresentou os fundamentos do letramento racial, como o reconhecimento da existência do racismo, a desconstrução de estereótipos, a valorização da diversidade, o empoderamento e a amplificação das vozes marginalizadas, a educação antirracista, a sensibilização para o privilégio racial e, por fim, o engajamento na luta por justiça racial.
“O racismo existe e vamos combatê-lo. Não com palavras, mas também com ações. O reconhecimento é necessário para a construção de políticas afirmativas”, disse. “Não é só a compreensão através de textos, filmes, é sentir a dor, ter empatia, é entender o outro nas suas especificidades”, disse a advogada, concluindo com uma frase de Barack Obama: A mudança não virá se esperarmos outra pessoa ou outra época. Nós somos as pessoas que estávamos esperando. Somos a mudança que buscamos.
Etarismo
O etarismo foi abordado por Susana Mesquita Barbosa. A advogada partiu de reflexões sobre violências e exclusões cotidianas para pensar o tema, ponderando que a dificuldade ao falar da postulação da equidade depende da percepção das interseccionalidades. “Pensamos nas dificuldades da mulher branca no mundo profissional. Imaginem uma mulher negra, uma mulher com deficiência”, disse.
“O preconceito do etarismo não é apenas com pessoas mais velhas. É preciso perceber os níveis presentes na discriminação. É preciso enfrentar os estereótipos, os nossos preconceitos. A discriminação tem muitos níveis – o institucional, o interpessoal – que combatemos com muita educação”, defendeu.
“Só se combate a discriminação se respeitarmos a diversidade da nossa sociedade. A manutenção de qualquer discriminação é um ato imoral, ilegal e um erro de gestão”, frisou.
Gênero
A questão do gênero foi abordada pela advogada Gisele Szmidt e Silva, presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero e a primeira mulher trans a realizar uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal. “Estamos fazendo história e tornando a sociedade melhor, ocupando todos os espaços, nas mais variadas áreas do conhecimento humano, entretanto somos diariamente assediadas, ganhamos menos, não temos autonomia dos nossos corpos”, disse.
Gisele lembrou que os direitos da população LGBTQIA+ são frutos de muita luta e que exigem esforços constantes a fim de evitar mais retrocessos. Entre as discussões mais recentes, Gisele citou a resolução proposta pelo Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Queers e Intersexos, que dá diretrizes para escolas públicas e privadas quanto ao reconhecimento e adoção do nome social dos estudantes.
Gisele explicou que o documento traz orientações para garantir as condições de acesso e permanência no ambiente escolar de todas aquelas que tenham sua identidade de gênero não reconhecida em diferentes espaços sociais. “Isso é necessário porque o ambiente escolar é o mais inóspito para nós. Trata-se de uma tutela de crianças trans para que não sejam expulsas do ambiente escolar”. resolução estabelece parâmetros para garantir a permanência de pessoas que não tem a identidade de gênero reconhecidas”, exemplificou.
Inclusão
A perspectiva das Pessoas com Deficiência sobre a inclusão foi abordada pela advogada Adriana Bezerra, membro da Comissão Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e referência nacional na luta por direitos da pessoa com deficiência. A advogada trouxe sua história pessoal, frisando o percurso de lutas para estar onde está hoje. “Muitas vezes achei que eu não ia viver. Hoje é um dia ímpar e agradeço a CMA por ter me acolhido”, disse.
“Minha dificuldade é diária, desde a atividade mais básica, até a mais importante. Nas audiências, escuto reclamações por atrasos por conta de minha dificuldade de fala. Temos que mudar a nossa cultura, parar de olhar apenas com olhos de julgamento e perguntar. O questionamento é fundamental. Temos muito a caminhar, mas olhando e ouvindo o outro, com empatia e solidariedade pela luta de cada um”, disse.
“Gosto muito de uma frase que diz que a inclusão não é só chamar para a festa, mas chamar para dançar”, pontuou Adriana.
Após as exposições, a conselheira federal da OAB Paraná, Silvana Niemczewski, teceu comentários aos principais temas em pauta. “Interseccionalidade, sororidade, representatividade. São tantas palavras. Pluralidade, aceitação, afirmação. Temos que valorizar nossa história e continuar levando adiante o que somos. Uma gota no oceano que vai virar uma onda. Aqui estamos e continuamos. Temos que falar de dor, mas também de amor. Temos que continuar a caminhar e a fazer a diferença”, resumiu.