“É preciso desconfiar de quem usa a democracia para atacá-la”, declarou Glomb ao receber a medalha Vieira Netto

“A democracia merece todo o cuidado pois, paradoxalmente, pode ser usada contra ela mesma: às vezes sutilmente; outras nem tanto, como nos recentes ataques à confiabilidade da urna eletrônica. Ataques que miram a desestabilização do Estado. Outro exemplo disso foi o intempestivo desfile militar que vimos ontem. É preciso desconfiar de quem usa a democracia para atacá-la”, declarou o advogado José Lucio Glomb no discurso de agradecimento pela Medalha Vieira Netto.

A homenagem foi feita na simbólica noite de 11 de agosto, como parte da solenidade de abertura da 7ª Conferência da Advocacia Paranaense, que segue até sexta-feira (13/8). A medalha, honraria máxima da advocacia paranaense, é concedida às personalidades que se destacam no exercício profissional, promovendo a defesa das liberdades e da democracia. Glomb, cuja escolha foi aprovada por aclamação pelo Conselho Pleno da seccional no dia 16 de julho, é o oitavo a receber a medalha, que lhe foi entregue pela antropóloga Cecília Maria Vieira Helm, filha de Vieira Netto, acompanhada do presidente da OAB Paraná, Cássio Telles. Também são detentores da medalha Ali Ratacheski, Egas Moniz Dirceu de Aragão, René Ariel Dotti, Eduardo Rocha Virmond, Newton de Sisti, Alfredo de Assis Gonçalves Netto e Edni de Andrade Arruda.

Trajetória

Presidente da OAB Paraná no triênio 2010/2012, Glomb foi o responsável pelo lançamento da campanha “O Paraná Que Queremos”, criada para pedir moralidade na Assembleia Legislativa depois de desvios terem vindo à luz, denunciados pela premiada série de reportagens Diários Secretos, veiculada pela Gazeta do Povo e pela RPCTV. A campanha contou com a adesão de dezenas de milhares de cidadãos e de centenas de entidades da sociedade civil paranaense.

Consagrado profissionalmente na advocacia trabalhista, Glomb também coordena o Conselho Superior do Movimento Pró-Paraná. Foi, por duas gestões, presidente do Instituto dos Advogados do Paraná e integrou o Conselheiro Federal da OAB nas gestões 2015/2015 e 2016/2018. Atualmente integra o Conselho da OAB Paraná como membro honorário vitalício.

Saudação

Coube ao advogado Carlos Roberto Siqueira Castro, conselheiro federal da OAB pelo Rio de Janeiro, fazer a saudação ao homenageado. Siqueira Castro traçou uma breve biografia, lembrando que Glomb nasceu em Porto União, Santa Catarina, embora seus pais — Estanislau, de origem polonesa, e Amélia, descendente de italianos — vivessem em União Vitória, do outro lado da linha férrea.

“A família era humilde, dedicada ao trabalho e à educação dos filhos. Desde cedo Glomb encarou o trabalho; foi vendedor de sorvete e, aos 11 anos, pastor de ovelhas. Nessa época, ganhando meio salário mínimo por mês, começou a comprar livros e jornais, fixando o hábito da leitura. Gradou-se em Direito na UFPR em 1976, confirmando uma vocação sólida e arrebatadora o suficiente para suplantar o estímulo de sua mãe para que cursasse Medicina”, afirmou Siqueira Castro.

A oração destacou as dificuldades que Glomb teve de vencer nos tempos de vida acadêmica, conciliando trabalho e estudo, citou seu apreço pelo esporte e também sua dedicação à família, descrevendo seu encontro com a também advogada Sueli no tempo em que ambos, ainda universitários, trabalhavam no mesmo prédio, o Edifício Barão, na esquina das Av. Marechal Deodoro com a Rua Barão do Rio Brando, no Centro de Curitiba. Do casamento, em 1977, nasceram seus três filhos – Ângela, Daniel e Marcia, todos advogados.

“Glomb trabalhou no departamento pessoal da Reitoria da Universidade Federal do Paraná, cargo conquistado em concurso com 600 candidatos para 4 vagas. Aí se aproximou do direito trabalhista e do mestre João Régis Fassbender Teixeira, com quem trabalhou até estabelecer seu próprio e bem estabelecido escritório”, lembrou, antes de citar também atuação política do homenageado como diretor cultural do Centro Acadêmico Hugo Simas, a participação na campanha pelas eleições diretas, nos anos 80 e a emblemática campanha pela transparência na gestão pública com a campanha “O Paraná Que Queremos”.

Para o orador, a trajetória explica bem como Glomb foi guindado à presidência do Instituto dos Advogados do Paraná, em 2009; da OAB Paraná, em 2010; e à atuação no Conselho Federal da OAB, em 2013. “No Conselho Federal, assisti tantas vezes, deslumbrado, as intervenções lúcidas, enérgicas e desassombradas de Glomb. Na Comissão do Código de Disciplina na OAB, que integramos juntos, conduziu-se sempre pelo primado da ética. Com sua maneira simples e fraterna, sem afetação, era a luz do Paraná a resplandecer em nosso histórico plenário”, frisou.

“Como andarilho, seu grande feito foram os 800 quilômetros do Caminho de Santiago de Compostela, em 2015. Com frequência nos enviava fotos e notícias dessa jornada mágica. Assim é Glomb, sempre presente. Esta singela saudação está por certo muito aquém do seu merecimento, mas é tecida com amizade, louvor e admiração”, disse Siqueira Castro.

Caminhada

Emocionado, Glomb agradeceu Siqueira Castro pelas palavras, reafirmando que sua família lhe deu os fundamentos de caráter para uma vida correta, saudável, honesta e vibrante e para que fosse sempre solidário. “Neste verdadeiro Caminho de Santiago metafórico, além da família, tive apoio de muitos colegas e funcionários de escritório. A eles o meu agradecimento. Essa grande caminhada não teria ocorrido sem a participação da Sueli, minha querida e amada esposa, para mim a maior das advogadas. Passamos por muitas dificuldades, mas contei sempre com a competência e o amor dessa advogada, sobrecarregada com os afazeres profissionais e os familiares. Por meio dela homenageio todas as mulheres advogadas. Quis o destino que hoje entre os advogados do escritório estejam também nossos três filhos. Quanto orgulho em ver o reconhecimento dos filhos no simples ato de seguir a profissão dos pais!”, declarou.

Glomb também lembrou de João Régis Fassbender Teixeira, a quem classificou como seu sempre professor. “Pelas mãos dele iniciei a jornada profissional. Em seu escritório ele ensinava aos jovens colegas todos os segredos da advocacia forense. Trabalhei com o professor João Régis por dez anos e aprendi por uma vida toda. A ele agradeço. Jamais poderei esquecê-lo”, afirmou. O advogado também lembrou dos sete colegas que o antecederam na conquista da medalha. “Todos são profissionais da maior expressão, capazes de honrar Vieira Netto, presidente que deixou marca indelével nesta seccional com sua obstinada resistência a tudo o que pudesse colocar em risco a advocacia”, lembrou, citando a presença das filhas e do neto do pioneiro da advocacia.

Ao destacar que Vieira Netto teve de mudar o discurso de paraninfo na UFPR para driblar a ditadura dos anos 60, Glomb citou as quatro liberdades então listadas pelo pioneiro. “Vieira Netto citou a liberdade de dizer, a de não temer, a de crer e a de ter segurança. Sobre a liberdade de não temer legou seu pensamento com lição convincente, que devemos nos recordar nos dias atuais. Disse ele ‘Quando se pretende interrogar as ideias, censurar a ciência, impedir o livre curso do pensamento, renegar a cultura é porque o medo se transferiu dos oprimidos para os opressores’. Em semelhante dimensão, Stuart Mills nos lembra que há cidadãos ativos e passivos; os governantes preferem os segundos, mas a democracia precisa dos primeiros”, ressaltou.

Glomb disse não ter hesitado um minuto ao lançar “O Paraná Que Queremos”, em 2010, por ter contado com a adesão de milhares de pessoas e de centenas de entidades, dentre as quais destacou a Associação Paranaense de Juízes Federais (Apajufe), na pessoa do juiz federal Anderson Furlan. “Temos de ter coragem e resistência. Por mais que o inverno seja rigoroso, a primavera sempre retorna com suas flores. Nos caminhos que virão, peço a Deus que vejamos o brilho do sol. Não é o utopia esperar que a felicidade, a paz e a justiça reinem na humanidade”, defendeu.

Confira a íntegra do discurso de José Lucio Glomb para a medalha Vieira Netto

Confira a íntegra do discurso de Siqueira Castro em homenagem a José Lucio Glomb

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