O projeto de rodas de leitura Ler Juntas, realizado pelas Comissões de Assuntos Culturais e de Defesa dos Direitos Humanos da OAB Paraná, teve o seu segundo encontro na tarde desta quarta-feira (27/11), na ala feminina do Complexo Médico Penal, em Pinhais. O projeto está sendo desenvolvido pela seccional depois das vistorias feitas no sistema penitenciário pela CDDH, que apontaram a carência de atividades culturais e integrativas para o grupo de mulheres sob custódia naquela unidade.
Os encontros se dão a cada duas semanas, às quartas-feiras, tendo como mediadoras a advogada Adelaide Strapasson e a consultora da Comissão de Assuntos Culturais, Maria Ângela Marques. Ambas aproveitaram a paixão pela literatura para se voluntariar para o projeto. A intenção é colaborar com a oferta e o incentivo de práticas socioeducativas e de ressocialização por meio do acesso à leitura em unidades prisionais.
“Recebemos relatos da falta de atividades durante a permanência nos cubículos e apelos no sentido de propormos alguma ação. Em conversa com a professora Maria Ângela, doutora em Direito, que coordena uma atividade similar no Museu Alfredo Andersen, e com Adelaide Strapasson, que faz parte do grupo Lendo Juntos, da CAAPR, desenvolvemos o projeto. Apresentamos ao diretor do Complexo Médico Penal, que prontamente proporcionou as condições para a implementação”, conta a presidente da OAB Paraná, Marilena Winter.
Interação
Por participação espontânea, um grupo de sete custodiadas acompanhou a atividade desta semana, voltada à leitura do conto A Moça Tecelã, de Marina Colasanti. O texto faz alusão à capacidade da personagem de tecer a sua própria história. Cópias do conto foram distribuídas às participantes que, após a leitura, com a interação das mediadoras, trocaram ideias sobre o texto.
“Não basta à OAB como instituição apontar os defeitos e as melhorias possíveis, mas oferecer alternativas que humanizem e tirem o aspecto brutal do encarceramento. E a literatura é um caminho possível e muito simples, com potencial para se multiplicar”, destaca Maria Ângela.
A receptividade foi positiva e as participantes, que contam com uma biblioteca no complexo, aderiram à iniciativa. Uma delas, Márcia, que participou da roda de leitura pela segunda vez, agradeceu a dedicação das mediadoras para a atividade. “Quero agradecer por dedicarem o tempo de vocês. Para nós é muito bom pensar em outras coisas”, afirmou.
“Essas mulheres não têm a liberdade física, mas podem ter a liberdade da imaginação. Elas podem, através da literatura, viajar, imaginar, sonhar, para que quando saírem dali tenham um repertório diferente daquele de quando entraram”, explica Adelaide Strapasson.
Conhecimento
O projeto foi apresentado pela presidente Marilena Winter, pelo presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Anderson Rodrigues Ferreira, e integrantes das comissões ao diretor do CMP, René Maciel Wecoski Fernandez, durante uma reunião no Complexo Médico Penal, no dia 30 de outubro. “Esse projeto é muito importante para nós, posto que dá uma ocupação para as custodiadas e possibilita que elas agreguem conhecimento cultural. Esse despertar para o conhecimento, nas mulheres que estão aqui, é algo essencial”, disse o diretor.
Em duas semanas após a reunião, já foi realizado o primeiro encontro, no dia 13 de novembro, com a leitura de um texto da escritora Conceição Evaristo.
Marilena Winter diz que o objetivo é ampliar a periodicidade e estender as rodas de leitura para outras unidades prisionais. “Acredito que esse programa tem um bom potencial para ser ampliado, envolver outras unidades e mais pessoas interessadas em contribuir, afinal a leitura é parte do cotidiano de um advogado. A ideia inicial seria criar uma curadoria de textos e até uma oficina para formação de mediadores de leitura. Levar não apenas distração, mas também cultura e dignidade às pessoas em situação de encarceramento”, completou a presidente da OAB Paraná.