Nova desembargadora do quinto constitucional fala sobre igualdade de gênero em palestra na OAB Paraná

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a Comissão das Mulheres Advogadas da OAB Paraná promoveu nesta quarta-feira (8/3) a palestra “Mulheres, Vivências e Experiências”, com a desembargadora do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), Ana Cláudia Finger. A palestra aconteceu no Edifício Maringá, com mediação da advogada Laola Marinho de Oliveira, e contou com a presença da presidente da OAB Paraná, Marilena Winter; da conselheira federal Silvana Niemczewski; e da presidente da Comissão da Mulher Advogada, Emma Palú Bueno, da vice-presidente da Comissão da Advocacia Iniciante, Katiely Lemes Ribeiro, além de conselheiras e conselheiros seccionais.

Ana Cláudia Finger tomou posse no TJ-PR em janeiro deste ano. Ela ingressou pelo quinto constitucional da advocacia. É formada em Direito pela PUC-PR (1992), especialista em Direito Contemporâneo e Direito Administrativo e mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Além da experiência como advogada e conselheira da seccional, ela ministrou cursos na área jurídica em diversas faculdades e institutos.

A presidente da OAB Paraná, Marilena Winter, destacou a atuação de Ana Cláudia com a advocacia. “Ela sentou nas cadeiras do conselho, tomou decisões com muitas de nós e hoje vem falar como desembargadora representante pelo quinto constitucional”, celebrou Marilena. Ela destacou o atual contexto da advocacia. “Nunca vi a OAB com tantas mulhres, conselheiras, presidentes de subseção e de comissão”, ressaltou.

“Nada acontece sem uma história. Temos que honrar muito todas as mulhees que nos antecederam para chegarmos até este momento. Tantas com as quais aprendemos, tantas que lutaram pelas conquistas. Que isso seja só o começo. Hoje temos o primeiro conselho paritário, por uma política afirmativa do Conselho Federal, que a OAB Paraná aderiu prontamente e que acaba servindo de exemplo para tantas instituições”, refletiu.

A presidente da seccional também aproveitou a oportunidade para falar sobre o enfrentamento da violência de gênero. “Estamos vivendo uma realidade de violência contra as mulheres que é inaceitaável. Precisamos tomar atitudes, precisamos provocar as instâncias governamentais, unir as forças da sociedade, porque a violência está aumentando, ao contrário do que se esperava. Não podemos naturalizar a violência. Todas as pessoas precisam fazer essa reflexão e não se permitir perder a sensibilidade sobre o tema”, conclamou Marilena.

Representatividade

A conselheira federal Silvana Niemczewski ressaltou a importância da representatividade ao se dirigir à desembargadora. “Representatividade importa. Quando a gente vê a mulher galgando espaços onde jamais sonhávamos há pouco tempo, isso é muito importante. Independentemente de cor, de classe social, temos que continuar sonhando”, disse a advogada. “Hoje é dia de gratidão, uma data, mesmo que simbólica para refletirmos sobre o que mudou. Hoje temos a primeira mulher presidente da OAB Paraná em 90 anos, a primeira conselheira federal mulher negra. São as primeira, não as últimas”,  acrescentou Silvana.

A presidente da Comissão das Mulheres Advogadas, Emma Palú Bueno, também destacou a importância da história de Ana Cláudia e como ela inspira outras mulheres. “Nós nos sentimos parte da sua trajetória, acompanhamos a lista, torcemos e vibramos. Quando a gente escolheu o tema é para olhar para a sua posição nos faz pensar que é possível um sistrema de Justiça onde podemos ter nosso espaço de igual para igual”, pontuou.

Emma também falou sobre a importância de se pensar nas mulheres de diferentes realidades. “Gostaria de lembrar que, como mulheres temos que nos enxergar também da condição de privilégio [por determinadas circunstâncias] e lembrar daquelas que têm suas mazelas”, ponderou. “Precisamos lembrar de diversas outras mulheres que passam por problemas que não passamos. Que a gente possa usar a nossa sororidade, igualdade de gênero, o nome que quisermos dar para ser verdairamente agentes de transformação para que a gente tenha uma sociedade mais justa, mais igualitária, com menos violência e equiparação de salários”, finalizou Emma.

Trajetória

A desembargador Ana Claudia Finger inicou sua palestra falando sobre sua trajetória pessoal e ressaltou o apoio que recebeu para concorrer a vaga do Quinto Constitucional ao se aconselhar com pessoas como a presidente Marilena Winter e do respaldo que recebeu do Conselho Pleno da seccional. Ela também mencionou a gratidão com para com a advocacia que, conforme explicou, não se deve confundir com contraprestação, mas a “memória do coração”.

“Não cheguei sozinha. Cheguei cm vocês e por vocês. Continuaremos e estaremos sempre juntas, esse é o meu compromisso”, prometeu a nova magistrada.

A convidada também relatou situações em sua carreira quando precisou lidar com preconceito de gênero em função do tratamento que recebeu de magistrados. “As dificuldades vão existir sempre. Como vamos sair delas depende muito de como reagimos. Uma forma de reagir a uma agressão, é com um olhar ou não retrucar. Não significa ter subserviência, mas precisamos ter altivez e ao mesmo tempo serenidade para refletir como vamos reagir”, aconselhou.

Ana Cláudia também fez um comparativo sobre a quantidade de mulheres que ingressam nos curso de direito e aquelas que chegam aos cargos de alto escalão. “Em sala de aula temos um número muito maior de mulheres. Nos concursos em que os critérios de aferição são objetivos, elas se destacam. Mas quando se exige um aspecto de discricionariedade e uma subjetividade maior na escolha, não vemos tantas mulher”, apontou.

Diálogo

A desembargadora acredita que é pelo conhecimento que se vencem as barreiras, não no embate e no conflito. “Não significa que não devemos ser enérgicas”, advertiu Ana Claudia. Ela citou a uma frase da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia: “Não somos uma maioria silenciosa, somos uma maioria silenciada”.

Entre os avanços, Ana Cláudia Finger celebrou a notícia deste 8 de março, em que foi anunciada a criação da Ouvidoria da mulher no TJ-PR. “Será não só para juízas e desembargadoras, que têm seus desafios, mas especialmente para servidoras, que sabemos que ainda passam por muitas situações”, afirmou.