Mães-meninas, um drama latino-americano

A advogada Sandra Lia Bazzo Barwinski, presidente da Comissão de Estudos de Violência de Gênero (CEVIGE), apresentou aos participantes do II Congresso Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente dados alarmantes sobre a gravidez na adolescência na América Latina. Para ela, a análise da questão deve ser feita com a separação em grupos. Não é o mesmo falar da gravidez de adolescentes entre 15 e 18 anos e da gravidez das mães-meninas, aquelas que têm menos de 14 anos, explicou.

Dados do Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem) apontam que um quarto de partos de adolescentes envolvem meninas com menos de 15 anos. Até os 14 anos, prosseguiu a advogada, a maioria das gravidezes decorre de violência sexual. Os ataques partem de membros da família, de conhecidos e também de estranhos. “Maciçamente são casos de Gravidez Infantil Forçada (GIF). A gravidez para uma menina com menos de 14 anos produz um impacto violento. “O parto é perigoso. Nessa idade a menina está em crescimento, não tem o assoalho pélvico formado. São maiores os riscos de eclâmpsia, de fístula obstétrica, de complicações e de morte no parto”, listou.

Custos

A advogada lembrou também dos altos custos para a saúde psicológica. Outros problemas associados à GIF é o abandono dos estudos e a dificuldade econômica associadas à maternidade numa idade inapropriada. “A chance é enorme de serem as únicas responsáveis pela criação dos filhos”, acrescentou, apontando a falta de políticas públicas adequadas.

“Olhando para a América Latina observamos a impunidade para os abusos, resultem ou não em gravidez. Vemos ainda a persistência da cultura de estigmatização das meninas e a falta de estatísticas precisas”, observou. Daí a importância das denúncias dos abusos. Com elas e com o trabalho consistente para levantar dados que embasem políticas públicas é que pode reverter esse quadro.

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