No Salão Nobre da Universidade Federal do Paraná (UFPR) repleto de estudantes e jovens advogados, a conselheira estadual Marília Pedro Xavier destacou, na abertura do seminário “Admirável Mundo Jurídico Novo”, a importância de aliar tradição e inovação para o exercício da advocacia nos tempos de hoje. O evento, que ocorreu na noite desta quarta-feira (20/6) e foi organizado por ela, serviu ainda para apresentar os temas em discussão na Clínica Jurídica Advocacia Disruptiva, sob sua coordenação. A clínica integra o Núcleo de Prática Jurídica da UFPR.
“Também é fundamental buscar as competências do advogado 4.O”, disse a advogada e professora. Tais competências, listou, incluem informações sobre inteligência artificial, jurimetria, inovação, empreendedorismo, Direito das startups, novas tecnologias, criptomoedas, blockchain, mediação e comunicação não violenta.
Em sua apresentação, Marília aludiu à presença de diretores e conselheiros da OAB Paraná na universidade como sinal do interesse que tais assuntos devem despertar em toda a advocacia. “O presidente da seccional, José Augusto Araújo de Noronha, esteve aqui. Pudemos mostrar que a clínica busca trabalhar com questões fundamentais para os advogados. São temas como honorários, gestão do escritório e legal techs”, disse.
Ao lembrar que a evolução do conhecimento deixou de ser linear, Marília apontou a importância de que os advogados adotem um comportamento condizente com o ambiente disruptivo. Tal comportamento inclui a habilidade de lidar com dados e estatísticas, o espírito colaborativo e a boa capacidade de comunicação. Citando Alvin Toffler, ela afirmou que “os analfabetos deste século são aqueles incapazes de aprender, desaprender e reaprender”.
Inovação e ética
Marcio Dumas, conselheiro estadual da OAB Paraná e integrante da Comissão de Inovação e Gestão da seccional, estabeleceu para os presentes a diferença entre inovação e pensamento inovador. “A inovação só ocorre quando é incorporada no contexto social. De outro modo é apenas uma ideia, um pensamento inovador”, pontuou. Além do contexto social, o estoque e a transferência de tecnologias são condições essenciais para a inovação.
Com menções a Thomas Friedmann e a Eric Teller, Dumas provocou a reflexão da audiência. Ele destacou o descompasso entre a capacidade de aprendizado, ampliada aritmeticamente, e a evolução da tecnologia, que avança exponencialmente. “Que fazer diante disso? O caminho é garantir que sigamos com ética. Que mantenhamos respeito, igualdade, valores e direitos”, preconizou, defendendo que nova ordem não pode deixar para trás o que a humanidade construiu até aqui.
Legal Hackers
Gisele Ueno, integrante da Comissão de Inovação e Gestão da OAB Paraná e co-fundadora do capítulo curitibano do Legal Hackers, também falou aos participantes do seminário. Ela relatou a migração de sua carreira, antes centrada no Direito Empresarial, para o campo da inovação. Gisele também traçou um panorama de iniciativas digitais envolvendo a advocacia no Brasil e no mundo.
Outro integrante da Comissão de Inovação e Gestão da OAB Paraná a se apresentar no seminário foi Rodrigo Marques, também do Legal Hackers. Marques incentivou os jovens advogados a enxergar oportunidades em cada mudança. Listando exemplos como os crimes praticados em ambientes de realidade aumentada e os debates sobre a personalidade jurídica dos robôs, ele demonstrou que muitas respostas estão em aberto. “Elas representam oportunidades. Para aproveitá-las é fundamental compreender os novos modelos de negócio. Eles estão centrados na ideia de que hoje é importante usar os bens disponíveis do que tê-los”, destacou.
Cryptoativos
A última palestra do seminário ficou a cargo da advogada Giovana Grupenmacher. Ela apontou os cryptoativos como um novo desafio para os operadores do Direito. “É um negócio que movimenta bilhões e que vem crescendo desde o advento do bitcon, em 2008. O bitcoin ganhou força justamente porque naquele ano o cenário internacional se caracterizou pela desconfiança no mercado tradicional”, lembrou. Giovana falou ainda das divergências quanto à visão desses ativos por parte dos atores econômicos. As visões distintas, apontou, são um desafio que pede atenção e estudo dos advogados que queiram lidar com o tema.