Edni de Andrade Arruda recebe a Medalha Vieira Netto
A advogada Edni de Andrade Arruda foi homenageada na abertura da VI Conferência Estadual da Advocacia com a Medalha Vieira Netto, a mais importante honraria concedida pela OAB Paraná. Conselheira federal, Edni Arruda é a primeira mulher a receber a condecoração, instituída em 2000 e já entregue aos juristas Alir Ratachescki, Egas Moniz de Aragão, René Ariel Dotti, Eduardo Virmond, Newton de Sisti e Alfredo de Assis Gonçalves Neto.
Inscrita na OAB Paraná sob o número 3.941, Edni de Andrade Arruda nasceu em Reserva, cidade de sua mãe, mas a titularidade de sua vida está em Guarapuava, para onde se mudou muito cedo e foi criada no seio de uma tradicional família de juristas – seu avô foi juiz na cidade e desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, seu pai foi influente advogado e presidente da OAB Guarapuava, sua prima foi ministra do Superior Tribunal de Justiça. Nesse meio, ela logo se interessou pelo Direito e, depois de se formar pela Universidade Federal do Paraná e obter inscrição junto à Ordem, em fevereiro de 1969, Edni Arruda se tornou a primeira advogada de Guarapuava – entre 2001 e 2006, foi também a primeira e única presidente da subseção.
Saudação – A secretária-geral da OAB Paraná, Marilena Winter, saudou a homenageada, lembrando que seu nome foi confirmado por unanimidade pelo Conselho Seccional. Marilena Winter explicou que são vários os motivos que levaram à escolha de Edni Arruda – por ser ela um exemplo de profissional, de caráter e de espírito; pelo simbolismo da medalha e de seu patrono, Vieira Netto, ele também um símbolo da profissão de advogado; e pelo fato de ser a primeira vez que a honraria é entregue a uma mulher.
“Edni nasceu destinada ao Direito e ao pioneirismo. É pioneira em muitos aspectos, que vivifica a expressão à frente do seu tempo”, disse Marilena Winter. “Dirigiu a subseção de Guarapuava, revolucionou a profissão, uniu os advogados locais e intensificou a atuação da OAB na comunidade local. Rígida no exame da ética da advocacia, é um ser humano doce e meigo, com peculiar senso de humor”, descreveu.
A secretária-geral também destacou o talento de Edni de Andrade Arruda no domínio do vernáculo e na expressão poética – talento que o público da Conferência pôde conhecer no discurso memorável que a homenageada proferiu logo em seguida. Na plateia, estavam muitos de seus familiares e amigos, entre eles a sua mãe, Dona Leoni, de 92 anos.
Utopia – Edni de Andrade Arruda falou das dificuldades e das recompensas da profissão citando o próprio Vieira Netto e as quatro virtudes – dizer não, não temer, crer e ter segurança. São mandamentos para os que amam a profissão e precisam resistir a inúmeras agruras, como a incerteza do processo, o choque das pretensões negadas, a descoberta cruel de que a justiça não é justa. “Advogar é acreditar numa justiça viva e permanente”, afirmou.
Edni pregou a o relacionamento respeitoso entre os profissionais do sistema de justiça. “Assisto perplexa a movimentação de alguns para criar um verdadeiro apartaid entre a advocacia, o Ministério Público e a magistratura – recuso-me a aceitar isso. A atividade forense já é suficientemente árdua e estressante para ser contaminada por antipatias gratuitas ou descortesias. A Constituição Federal nos reservou papeis igualmente relevantes. Somos todos angustiados pelo peso de nossas responsabilidades na realização da justiça, a mais bela de todas as utopias.”
A advogada abordou a atual situação política e institucional do Brasil e a missão da advocacia. Considerou que, nesses tempos sombrios, a Ordem não fugirá do seu destino. Será a garantia concreta da reconstrução moral do país e manterá intocável os altos valores da profissão. “É angustiante assistir às tentativas nefastas de enfraquecimento dos poderes da República. Não precisamos de salvadores da pátria. Sabemos bem que os salvadores são os primeiros na fila dos traidores e buscam apenas salvar a si mesmos”, enfatizou, quando foi bastante aplaudida.
Em outro momento, falou sobre sua condição de mulher advogada e feminista convicta. “O feminismo que defendo é as vezes o reverso do que vejo. Sempre recusei esteriótipos que a pretexto de exaltar a mulher, atribuindo-lhe virtudes quase sobre-humanas, servem para infantilizá-la, confinando-a no gueto da mediocridade”.
Edni defendeu a maior participação das mulheres nos quadros da OAB. “Enquanto cresce de forma vertiginosa o número de advogadas inscritas, em nada aumenta a sua participação institucional. Esse paradoxo merece atenção de todos. Não pode, nem deve a advocacia brasileira dispensar o talento de tantas”, ressaltou. “Espero que as advogadas brasileiras se comprometam a mudar essa realidade indesejada com empenho e constância, que se entreguem e se integrem à Ordem dos Advogados do Brasil”, completou.