A partir da perspectiva do viés inconsciente, segundo a qual o indivíduo se comporta e reage de acordo com ideias preconcebidas desde a infância e experiências vivenciadas ao longo da vida, a Comissão de Advogados Iniciantes promoveu um amplo debate na noite de quarta-feira (14) sobre o feminino. O encontro reuniu advogadas de várias comissões da OAB Paraná em um diálogo que permitiu a troca de experiências e impressões sobre os desafios da mulher a partir das diferenças.
“O nosso cérebro não funciona de forma 100% racional. Todos carregamos preconceitos e reagimos de acordo com ideias preconcebidas desde a nossa infância. Na maioria das vezes nem percebemos que agimos de determinada forma e essa é uma das principais causas dos preconceitos e desigualdades. Hoje chamamos todos esses nomes da advocacia para compartilhar suas histórias e, a partir daí, abordarmos os vieses inconscientes, mostrando a necessidade de verificar as opiniões e os preconceitos de cada pessoa e mostrar que é importante termos pessoas diferentes dentro do grupo de trabalho. A diferença só vem a somar”, explicou a presidente da Comissão de Advogados Iniciantes, Giugliana Carta.
Neste sentido, a conselheira estadual Sabrina Becue, presidente da Comissão da Advocacia Dativa, frisou que antes de superar os obstáculos é preciso reconhecê-los. “Cada mulher aqui presente, ao seu modo, tem uma contribuição para incluir mais mulheres na política de Ordem – quer em relação à advogada negra, à advogada trans, à advogada com deficiência, à maternidade. A ideia é trazer diferentes mulheres para o diálogo. Queremos que o número que temos hoje nos quadros da Ordem se reflitam também na participação delas nas políticas institucionais. O viés inconsciente veio de uma forma técnica para começarmos a tratar disso”, afirmou.
“A ideia é incentivar as advogadas a participarem desse diálogo, ouvir e serem ouvidas. Discutir os desafios próprios da advocacia, os do país e aqueles que são mais específicos para as mulheres”, pontuou a secretária-geral da OAB Paraná, Marilena Winter.
A presidente da Comissão de Igualdade Racial, Silvana Niemczewski, enalteceu a união das mulheres em torno de uma causa comum. “Este debate é importante até para falarmos sobre sororidade. Por mais que nós saibamos que somos maioria hoje no Brasil, não estamos em posição de destaque, e não é porque não temos competência. É porque não temos oportunidades. E estas são geradas pela troca de informações, que é exatamente o que vai acontecer aqui hoje. Esse é o intuito desse evento, mostrar que somos capazes, mas unindo forças somos muito mais”, sustentou.
O evento contou também com a presença da primeira advogada trans da Região Sul do Brasil, Gisele Alessandra Shimidt e Silva, que abordou a discriminação que há contra as mulheres e a população trans. “A maior parte da população transgênero foge do ambiente escolar porque sofre muito bullyng e acaba ficando à margem da sociedade. Eu espero que essa população se espelhe no meu exemplo: não obstante todas as dificuldades que enfrentei e enfrento até hoje, fiz a faculdade de Direito, passei no Exame de Ordem, fiz uma sustentação no Supremo Tribunal Federal, conquistando um avanço para a sociedade brasileira, que foi a possibilidade de retificar o prenome e designativo de sexo independentemente de laudo. As pessoas trans poderão em breve ir direto ao cartório e fazer esse procedimento”, destacou.
A advogada Adriana Denise Teixeira Bezerra, membro da Comissão de Direitos da Pessoa com Deficiência, também deu seu testemunho aos participantes do evento como mulher PCD. “Ao ver a pessoa com deficiência, muitos esquecem do lado mulher, do lado humano, do lado de dever. Vê apenas a deficiência. Acho que este debate é uma convocação à nossa equidade, de todo tipo de mulher. O direito é de todos, a cidadania tem que ser de todos. Hoje a mulher é colocada num patamar menor que os homens. A mulher com deficiência é diminuída ainda mais. A pessoa com deficiência precisa sempre provar que está em pé de igualdade com qualquer pessoa”, sustentou.