“Vivemos hoje em meio a uma tempestade de dados sobre saúde. Na internet e nos veículos dedicados ao tema as informações são abundantes, variadas e até absurdas. Por isso a medicina preconiza que as informações baseadas em evidência”, lembrou o médico especialista em nefrologia, escritor e professor Hélnio Judson Nogueira. No I Seminário de Pessoas Idosas do Século XXI, realizado nesta quinta-feira (24/5), na OAB Paraná, seu alerta serviu para anunciar as evidências que ele apresentaria em favor de hábitos saudáveis de vida. O objetivo, pontuou, não é apenas elevarmos a longevidade, mas vivermos mais felizes.
O médico lembrou a todos da definição da Organização Mundial de Saúde (OMS) segundo a qual saúde é o bem-estar físico, mental, social e espiritual. “Quando temos isso tudo, somos felizes. Uma pesquisa médica apontou que, entre os médicos, os reumatologistas são os mais felizes. Não é por curar os pacientes, porque nessa especialidade mais tratam do que curam. Então, por quê?”, instigou. Nogueira explicou que a resposta está no perfil médio dos analisados indica que são profissionais com peso normal, que bebem pouco ou não bem, não fumam, são casados, são religiosos praticantes, dedicam-se ao trabalho voluntário e fazem atividade física pelo menos cinco vezes por semana.
O mesmo levantamento, prosseguiu o palestrante, indicou neurologistas, gastroenterologistas e clínicos gerais estão entre os mais infelizes. Motivo: o perfil dos analisados indica que são mais obesos, praticam pouca atividade física, consomem muito álcool, têm dívidas, são divorciados ou separados, e mesmo tendo religião, não se dedicam a ela. “Isso chama a atenção. Afinal, queremos viver mais, mas não na cama, doentes. Os estudos mostram que desequilibramos o sistema nervoso cansando a mente o corpo excessivamente ao dormir pouco, comer mal e negligenciar a atividade física”, destacou Nogueira.
Hábitos
O médico citou ainda o estudo norte-americano Nurses´ Health Study, que acompanhou 79 mil profissionais da área médica, sobretudo da enfermagem, de 1970 a 2014. Nesses 44 anos de estudo 14 mil participantes morreram de câncer e mais de 10 de problemas cardiovasculares. “O estudo apurou cinco hábitos de vida dos que se mantiveram saudáveis: nunca fumaram; consumiam pouquíssimo álcool, mantinham índice de massa corporal abaixo dos 25; praticavam ao menos meia hora de exercício físico mais de cinco vezes por semana e adotavam uma dieta de alta qualidade. Ou seja, uma alimentação sem embutidos, com pouco sal, pouca carne, pouco açúcar, livre de refrigerantes e frituras. E, por outro lado, abundante em alimentos integrais, azeite de oliva, nozes e castanhas, verduras, legumes e frutas, sobretudo abacate”, enumerou.
Nogueira destacou que entre as mulheres a diferença de expectativa de vida entre as mulheres que não adotam nenhum dos cinco hábitos e as que seguem todos eles é de 14 anos. As mulheres americanas do estudo com bons hábitos viveram em média 93 anos. As que não adotaram viveram em média 79 anos. “Não é só questão de viver bastante, mas de viver com menor risco de câncer e doença cardiovascular. De viver com saúde”, destacou.
Longevidade
O especialista citou ainda uma pesquisa da Universidade de Loma Linda, na Califórnia, instituição adventista onde estudou e lecionou. “A partir da informação das cinco blue zones do planeta (veja quadro), o estudo procurou saber a razão de adventistas do sul da Califórnia viverem mais”, explicou. Assim, de 1971 a 1996 os adventistas da região foram comparados com pessoas do mesmo credo em outras regiões dos Estados Unidos.
Os achados não divergem muito daqueles obtidos no estudo dos profissionais da saúde. Os magros vivem de 3 a 4 anos mais. O exercício físico regular, portanto, dá mais 3 ou 4 anos de vida e o consumo abundante de frutas 4 ou 5 anos. “Com as três práticas juntas, são 10 a 12 anos mais. Dá para cada um de nós fazer isso?”, provocou. Com base nessas evidências, a mera redução de alimentos refinados e industrializados já resulta em grande qualidade de vida. No caso dos vegetarianos, não é somente o fato de não consumir carne que faz a diferença; a chave é a tendência, mais presente entre eles, de cuidar da saúde.
“São hábitos simples e em cima disso devemos construir nossa vida. No meu consultório, quase todos os pacientes recebem essa receita, que é para ser comprada na feira”, ressaltou.
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