A advogada paranaense Gisele Alessandra Shimidt e Silva, a primeira transexual a sustentar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), esteve entre os palestrantes do Brazil Conference At Harvard e MIT, realizado no início de abril em Massachusetts, nos Estados Unidos. Ela foi convidada para falar sobre o trabalho realizado no STF e a histórica decisão que possibilitou a retificação de prenome e desígnio de gênero das pessoas transgênero sem a necessidade de cirurgias de transgenitalização ou ajuizamento de processos judiciais.
Gisele Alessandra participou do painel sobre os 30 anos da Constituição Federal, ao lado do ministro Luís Roberto Barroso e outras personalidades brasileiras, entre intelectuais, artistas, políticos e estudantes.
A Brazil Conference at Harvard & MIT é um evento organizado desde 2015 pela comunidade brasileira de estudantes na região de Boston. A conferência tem como objetivo promover o debate entre líderes e representantes da diversidade nacional e internacional, sobre os mais variados temas envolvendo o Brasil. Nesta edição, foram convidadas pessoas envolvidas em iniciativas que visem à mudança do país. O encontro reuniu mais de 16 mil alunos em Harvard.
Trajetória
Gisele é a primeira advogada trans da região sul do país. Advogada criminalista, é militante em Direitos Humanos e direitos da população LGBTI, especificamente das pessoas transgênero. É membro da Comissão de Diversidade Sexual e Gênero da OAB Paraná, conselheira suplente do Conselho Estadual de Direitos da Mulher do Paraná, membro do Comitê LGBT da Secretaria de Estado de Justiça, Trabalho e Direitos Humanos do Paraná e vice presidente da ANAJUDH (associação nacional de juristas pelos direitos humanos). A advogada também presta assessoria e consultoria jurídica para o Grupo Dignidade, dirigida pelo ativista pelos direitos humanos Toni Reis.
Em 2017 a advogada fez história ao se tornar a primeira transgênero a defender a ADI 4275 no STF, tendo como objeto a retificação de prenome e desígnio de sexo das pessoas transgênero. Na oportunidade ela afirmou que “negar a uma pessoa o direito ao nome e a expressão da sua dignidade é negar o direito de existir”.
À Revista da Ordem (relembre aqui), Gisele Alessandra contou que desde criança se identificava com o gênero feminino. “Eu sempre soube. É algo que começa já na infância. Você usa roupa masculina com extremo desconforto, quer pertencer ao feminino”, relatou. Os desafios foram grandes, mas não a intimidaram. “Não foi fácil. Já apanhei muito, levei cuspidas. São traumas que você carrega pela vida inteira. Até hoje me pergunto como consegui terminar meus estudos, me tornar uma advogada”, contou.