A presidente do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB Paraná, Eunice Martins e Scheer, fez a palestra de encerramento da Conferência Estadual da Mulher Advogada, na noite deste sábado (24/3), em Maringá, tratando do tema “Ética: o valor que transforma o mundo”.
“Como podemos não estar tristes com tanto desrespeito aos direitos humanos? Há quem pense que o mundo sempre foi assim e que somente o volume das comunicações mudou nossa visão. Outros observam que os detentores de poder econômico do mundo é que filtram as informações que nos chegam. Mas, mesmo que não confiemos na mídia, a confirmação das mazelas denunciadas está posta para quem olhar para os lados: nas filas dos hospitais públicos, nos jardins e praças depredados, no desrespeito ao que é público”, disse a advogada.
Eunice considera trágico o caso brasileiro, em que partidos de todos os matizes ideológicos não se fazem de rogados ao serem chamados para fraudes e tramas sórdidas contra o patrimônio público. A colonização terrível, assinalou, deixou marcas perversas, como uma sociedade que não prioriza a verdade. Depois veio o binômio da casa grande e da senzala, nefasto não só pela opressão, mas por nos permitir aceitar a ideia de supremacia de uns sobre os outros.
Hedonismo corrosivo
Após listar males decorrentes do individualismo, do utilitarismo, do consumismo galopante, da felicidade hedonista, ela afirmou que a perda de contato humano e da urbanidade trouxe uma superficialidade que “está nos entristecendo e nos enlouquecendo”.
Para a presidente do TED, é preciso reconhecer a urgência de mudar este estado de coisas. “Temos de nos ocupar deste tema. Daí a importância de eventos como este, que questionam esses valores do nosso tempo. Mas temos de perder essa condição de observadores críticos, cheios de opinião e de razão. É preciso que nos vejamos como partícipes. O individualismo traz uma recompensa efêmera para o ego. E com isso, cavamos abismos que nos separam dos outros, inclusive de nossas famílias”, afirmou. “Não podemos mais olhar para os problemas do mundo como vítimas”, cravou, completando que também não adianta ter mais regulação, mais leis, mais muros, mais armas ou ideias estapafúrdias, como o treinamento militar para professores. “O caminho passa pela discussão profunda de tudo o que afeta o processo civilizatório. Temos de adotar um reajustamento geral das nossas condutas se quisermos manter a vida em sociedade”, considerou.
Ela defendeu ainda o restabelecimento da ligação entre as virtudes e a felicidade, valorizada na Grécia clássica. “Não somos mais movidos pelo interesse da polis porque sucumbimos ao relativismo e aos parâmetros fluídos, sujeitos à deformação instantânea para se amoldarem às necessidades de ocasião. A vida em sociedade só tem alguma chance quando compreendermos que a coletividade é mais importante que o individualismo”, afirmou.
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Homenagens
A advogada Lúcia Maria Beloni Correa Dias foi homenageada pelo trabalho voluntário desenvolvido ao longo de duas décadas na OAB Cidadania. "Mal posso acreditar que se passaram vinte anos nesse trabalho de sentimento e humanidade que dá voz a todas as pessoas. Quanto a este encontro, com tantos anos de Ordem, nunca tive dois dias tão intensos para refletir. O encontro de Maringá vai ficar na história", afirmou Lucia.
Luciana também pediu aplausos a todas as integrantes de comissões de mulheres advogadas. "Nós vamos fazer a diferença!", disse antes da leitura da Carta da Conferência.