OAB Paraná promove roda de conversa sobre o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha

A OAB Paraná promoveu uma roda de conversas com mulheres que são lideranças do movimento negro para celebrar o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha, que marca esta quarta-feira, 25 de julho. A data foi definida em 1992, durante o Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas, na República Dominicana, com o objetivo de dar mais visibilidade às lutas dessas mulheres e combater o racismo e outras formas de violência.

Durante o encontro, mulheres que são liderança na OAB receberam representantes das causas da mulher negra de diferentes setores, como movimentos sociais, academia, negócios e do Judiciário.

A presidente da Comissão de Igualdade Racial, Silvana Cristina de Oliveira Niemczewski, lembrou que, no Brasil, nesta data também é comemorado o Dia de Tereza de Benguela, líder quilombola que se tornou rainha, resistindo bravamente à escravidão por duas décadas. Ela ressaltou que não se trata apenas de lembrar o dia em si, mas que é preciso voltar sempre o olhar para essas questões. “Não primamos somente pela data, mas pela continuidade da luta”, disse.

“Iniciativas como essas vêm ao encontro da necessidade do reconhecimento da história das mulheres negras que estiveram no centro das lutas e movimentos sociais e culturais. Pouco se conhece sobre nossas heroínas negras: Esperança Garcia,Dandara, Luíza Mahin, Carolina Maria de Jesus, Mãe Menininha, Laudelina Mello, Tereza de Benguela e tantas outras”, acrescentou Silvana. Ela lembrou ainda o importante passo que a Comissão deu com a aprovação do Estatuto da Igualdade da Racial, aprovado na seccional do Paraná, e que está servindo como referência em outros estados do Brasil.

Ao dar boas-vindas às convidadas e abrir a roda de conversa, a secretária-geral da OAB Paraná, Marilena Winter, destacou que, pela primeira vez, a seccional abre as portas para celebrar esse dia. “Que seja só o começo. Esse evento é um rito de passagem para que a paridade seja sentida e vivificada”, conclamou. Ela também manifestou o desejo por dias de mais acesso para todas. “Por que abrir portas? As portas nem deveriam existir”, concluiu Marilena.

“É um momento para eu me calar e ouvir”, disse a presidente da Comissão de Estudos sobre Violência de Gênero (Cevige), Sandra Lia Leda Bazzo Barwinski. “Na faculdade, percebi que ter privilégios é negar direitos”, disse a advogada. Ela também relembrou que o primeiro espaço que lhe foi aberto para palestrar foi na Rede de Mulheres Negras e manifestou sua gratidão pela troca que vem fazendo com esses grupos de mulheres.

“O dia de hoje é mais um passo para tirar o assunto da invisibilidade. A OAB é um espaço muito propício para conversarmos sobre o Dia da Mulher Negra”, observou Luciana Sbrissia Bega, presidente da Comissão da Mulher Advogada.

Vivências

Durante o debate, cada participante teve a oportunidade de relatar suas experiências, contaram histórias de racismo e de força para enfrentar essas situações.

A historiadora e militante do movimento negro Heliana Hemetério dos Santos esteve em Santo Domingo, na República Dominicana, quando o Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha foi criado em 1992. Ela relembrou a emoção que sentiram ao definir esse marco. Durante sua exposição,  falou sobre o papel dos negros que se encontram num lugar de elite na sociedade.

“Viver o tempo todo entre brancos é muito confortável. Se estou tendo acesso a uma série de coisas que o resto da população negra não tem, eu me torno uma referência e as pessoas se espantam por eu ser uma mulher negra que sabe falar e se colocar. Eu quero que o branco entenda que eu me dei conta do racismo e fui buscar uma leitura [do contexto]”, disse Heliana.

A advogada Mariana Lopes, por exemplo, contou o desafio que teve com as filhas quando chegou em Curitiba, vindo do Rio de Janeiro, sua terra natal. As meninas sofreram discriminação na escola e a mãe então tomou a seguinte decisão: “Não quero ficar chorando, quero falar”. Ela procurou a OAB, se envolveu com diversas comissões e hoje é vice-presidente da Comissão da Mulher Advogada. “O nosso empoderamento é pelos nossos filhos. A gente não fica só chorando, a gente trabalha, vai à luta e pensa no outro. Pensar no outro é a coisa mais importante que existe. A nossa história, muitas vezes sofrida, precisa ser contada e promove uma luta”.

A desembargadora do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-9 ) Neide Alves dos Santos também narrou sua vivência. Única pessoa negra na composição da corte, ela foi procurada por servidores do tribunal que sentiam o racismo no dia a dia. Surgiu então uma comissão de igualdade racial interna no tribunal, que é presidida pela magistrada.

O encontro realizado na OAB Paraná está inserido no ciclo de eventos que formam o Julho das Pretas. A professora Santa de Souza enfatizou que as mulheres do movimento negro estão “empenhadas em trazer para o 25 de julho uma visibilidade tal qual a do 8 de março”.

Também participaram da roda de conversa Luciana Sbrissia Bega, presidente da Comissão da Mulher Advogada, Lucimar Dias, do Núcleo de Estudos Afrobrasileiro (NEAB), da UFPR, Vera Lucia de Oliveira Podgurski , advogada, Conceição Barindelli, presidente do Instituto Luigi Barindelli Cavaliere dell’Ordine dela Stella d’Italia BPW, Ananda Rodrigues Puchta, secretária da Comissão de Diversidade Sexual, e Fernanda Valério, advogada e diretora acadêmica da Comissão dos Advogados Iniciantes (CAI), além de Joana e Caetano, filha e neto da historiadora Heliana dos Santos.