“Quando as condições são justas, as mulheres conquistam espaço”, afirma Pereira

O painel “Escritórios em pauta: a carreira da mulher advogada” teve a conselheira estadual Neide Simões Pipa André, que preside a Comissão da Mulher da OAB Cascavel, como presidente de mesa. A relatoria foi da presidente da Comissão da Mulher da OAB Cianorte, Daiana Carolina Marques Sanches e a mediação da coach Mara Behlau, PhD em Fonoaudiologia.

“Quero parabenizar as organizadoras pela beleza do evento”, afirmou Neide antes de apresentar os painelistas. O primeiro a se apresentar foi o conselheiro estadual da OAB Paraná Luiz Fernando Pereira. “Temos no escritório em que trabalho mais de 100 funcionários e mais da metade são mulheres. As advogadas também representam 50%”, disse. Mencionando um dado que está no livro “História das Mulheres no Brasil”, de Mary Del Priore, Pereira disse que as mulheres, para a advocacia, já foram consideradas “perdidas e degeneradas”.

“Na Procuradoria do Estado as mulheres são maioria e ganham o mesmo porque a seleção é por concurso público. No programa de trainee do escritório, com provas prestadas sob anonimato justamente para evitar preconceitos, os resultados também apontam para a paridade de homens e mulheres. Precisamos corrigir um déficit, que não é de capacidade, mas de mercado. Temos de criar um microssistema de correção. Mesmo na Procuradoria, as mulheres são minoria nos cargos de direção, mas podemos concluir que quando as condições são justas, as mulheres conquistam espaço no mercado”, afirmou.

Pereira lembrou ainda que no ranking do grau de representatividade, do qual constam 135 países, o Brasil está em 115º lugar, com o índice de 10% de mulheres no Congresso. Já países vizinhos, como Equador e Bolívia, estão perto de ser paritários em relação ao gênero.

Medidas

“Há algum tempo desligamos um cliente por assediar uma advogada. Isso graças a um sistema de compliance que mantemos para garantir uma boa gestão das políticas de gênero. E não precisa ser um escritório grande para isso”, destacou. Pereira listou ainda outros desafios na busca pela equidade, como a participação dos homens na criação dos filhos e a tolerância zero às piadas machistas. Disse ainda que já foi machista e que teve de aprender com os erros para vencer os próprios preconceitos. “Se soubesse o que sei agora, teria mudado antes”, resumiu.

O advogado Vinicius Secafen Mingati diz ter recebido com surpresa o convite para participar da conferência como painelista. “Me perguntei: por que não uma mulher? Mas depois refleti e concluí que vivemos numa sociedade machista. Destaco a palavra sociedade. O machismo é uma doença de toda a sociedade e, portanto, precisa também do envolvimento dos homens para ser curada”, afirmou.

“Precisamos de um processo de conscientização coletiva. Os homens devem ser parte fundamental desse processo. É impressionante como os homens se sentem à vontade para fazer piadinhas sobre as mulheres nos grupos de conversa exclusivamente masculinos. São tiradas sobre a roupa, a aparência, a emotividade”, citou.

Mingati relatou que seu escritório nunca havia tido uma mulher no estágio de Fórum. “Isso aconteceu de modo inconsciente, como em geral manifestam-se os preconceitos. Nos demos conta, escolhemos um currículo e apostamos numa estagiária que desempenhou maravilhosamente seu papel”, contou.

Perspectiva

A moderadora Mara Behlau parabenizou os painelistas pelas boas práticas em seus escritórios, inclusive pelas de respeito a advogadas gestantes, relatadas por ambos os painelistas. Mara também ressaltou a importância da prática da mentoria apresentada em outro painel da conferência (leia aqui).

Após o painel, Mara abordou o funcionamento do cérebro na comunicação. “Muito do que fazemos e falamos é resultado de conceitos sedimentados há milênios. Entender a neurociência é fundamental para obtermos melhores resultados na comunicação”, afirmou. “Na busca atávica por reduzir riscos e maximizar recompensas, nosso cérebro analisa, muito rapidamente, as condições do ambiente. O cérebro escaneia no ambiente o nosso status, o grau de autonomia, o pertencimento e a justiça. Isso tudo é processado na busca de padrões para reação”, explicou, ao argumentar que modificar as condições do entorno é um modo seguro de mudar nosso comportamento.

“Toda vez que alguém diz ´eu deixei bem claro´ ou ´eu entendi o que fulano quis dizer´, podem ter certeza: não ficou claro e não foi entendida a mensagem. A comunicação envolve o preenchimento da lacuna de informação com o repertório de cada um”. A comunicação, pontuou, é impactada por vieses e um deles é o gênero. “Estudos indicam que times mistos elevam a inteligência do grupo e que a inclusão de mulheres nas tomadas de decisão eleva os lucros. Mas no mundo todo as mulheres ainda são minoria nos topos das organizações”, alertou.

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