O advogado Marcos Antônio da Silva, 46 anos, começou 2017 decidido a correr a Maratona de Buenos Aires, que se realizaria em outubro. Nove meses antes garantiu inscrição, passagens e hotel. Com os preparativos prontos, seguiu a vida, tomada por compromissos profissionais, pessoais e pelos treinos.
Silva é adepto das corridas desde 2002, mas foi com o Projeto Corrida Legal, criado pela Caixa de Assistência dos Advogados da OAB Paraná em agosto de 2015, que o esporte passou a ser levado mais a sério, com disciplina, técnicas e objetivos mais ousados.
A duas semanas da prova, um susto. Ele havia se preparado para estar em Buenos Aires no domingo, 8 de outubro. A Maratona, porém, seria no dia 15. O impacto da descoberta, brinca, foi muitas vezes superior ao esforço do teste ergométrico e dos treinos.
“Na hora, pensei: me confundi com as datas. Depois descobri que a data inicial de 8 de outubro fora alterada em função do calendário eleitoral argentino. Mas o estrago estava feito”. As estadias no hotel já tinham caído na fatura do cartão de crédito e a taxa para a alteração da data de voo equivalia a 70% do valor da passagem. “Tudo indicava que havia terminado ali, antes mesmo de ter começado, meu sonho de correr aquela maratona em 2017”, relembra.
Para não perder dinheiro, Silva decidiu usar as passagens e reservas já feitas em um passeio por Buenos Aires com a mulher, Niva. “Visitamos parques, conhecemos cafés e testemunhamos a paixão da nova geração argentina pela corrida e pela vida saudável”, diz.
Para tentar recobrar o ânimo, Marcos aproveitou os dias de descanso na capital argentina para se inscrever para a maratona de Curitiba, a ser realizada em novembro. Seu ânimo, contudo, estava alterado. “Minha empolgação não convenceria ninguém”, admite.
Niva, claro, notou a frustração. Ainda durante a viagem, ela deu um empurrão: “Por que você não vem para Buenos Aires no próximo fim de semana e corre a maratona? Não é o que você queria?”, instigou.
“Na defensiva, reuni argumentos sobre custos não planejados, viagem longa e tudo o mais. Mas é nessa hora que a parceria aparece. Niva, que agora também é corredora e sabia exatamente o que estava sentindo, continuou me incentivando a manter o plano original. Refleti e não deu outra: comprei novas passagens e reservei hotel para voltar a Buenos Aires”, relata.
Feita a correção de rumo, Silva estava a postos nas calçadas de Belgrano às 6h15 da manhã do último domingo, 15 de outubro, pronto para se juntar a milhares de outros atletas. A esposa, no mesmo dia, participou da corrida de 5k do Sest/Senat, em Curitiba.
Às 7 horas, foi dada a largada para a Maratona de Buenos Aires. Com música, buzina e gritos os portenhos estavam em peso nas ruas para apoiar os corredores ao longo dos 42.195 metros de uma prova muito organizada. Numa esquina havia bailarinos de tango, na outra uma brasileira cantando lambada. Mais adiante, no La Bombonera, torcedores do Boca batiam tambores. Aquilo me jogou para cima”, conta, emocionado.
Silva terminou a prova melhorando seu tempo em 7 minutos, ao mesmo tempo em que, caminhando com dificuldade se perguntava, como em outras vezes, o porquê de se submeter a tanta pressão física e mental. “Olhei em volta e vi corredoras abraçadas, chorando. Alguns atletas se estenderam na grama, tentando se alongar, outros pulavam de alegria… Sozinho, vivi uma explosão de lembranças. Recordei dificuldades, treinos, alegrias, sofrimentos e os muitos laços que fiz nesse incrível mundo da corrida. Na minha concepção, isso é estar vivo”, pondera.
Silva diz que a maratona, pela intensidade e pelo sofrimento, é a coisa mais difícil que já fez na vida. “Depois de um desafio assim, me sinto muito mais forte para ser uma pessoa melhor em vários aspectos. Me sinto forte!”
Satisfeito pelo desafio vencido, ele não esconde a gratidão pelo projeto Corrida Legal, que consolidou sua prática esportiva. “Os idealizadores estão de parabéns por tirarem centenas de advogadas e advogados do sedentarismo”, afirma.
Esta semana, andando com dificuldade, mas cheio de alegria, ele já faz planos para as próximas empreitadas e acalenta um sonho de longo prazo: correr uma maratona na Europa, de preferência em Berlim. Aos companheiros de atividade, recomenda: “Se você corre, continue treinando. Proponha um objetivo para si mesmo e siga em frente! Não deixe ninguém parar você!”.