“O Universo da Pessoa Idosa” é o tema do evento aberto nesta terça-feira (13) na sede da OAB Paraná. Os painéis foram organizados pela Comissão de Direito do Idoso da seccional, presidida pela advogada Rosângela Maria Lucinda.
Ao abrir o evento que antecede o Dia Internacional de Combate à Violência contra o Idoso, celebrado a 15 de junho, o presidente da OAB Paraná, José Augusto Araújo de Noronha, destacou a importância de o Paraná ter assento na Comissão Especial do Idoso do Conselho Federal da OAB. “Políticas públicas para o idoso precisam ser debatidas aqui em simetria com o Conselho Federal. O presidente Claudio Lamachia tem dado a devida importância a esse tema, que, para nós, sempre foi de grande relevância. Vivemos em um Estado que cada vez presta menos serviços e cobra mais tributos; que reduz investimentos em segurança pública e em educação. Um Estado que enfrenta uma crise na saúde pública. A corda se rompe nas pessoas de mais idade, na hora em que mais necessitam”, destacou Noronha.
Para o presidente, o quadro geral exige da sociedade um espírito de batalha. “É imperativo lutar por dignidade, direito e respeito. Temos de gritar alto para que não haja uma supressão ainda maior de direitos”, completou ao reafirmar o apoio da seccional à comissão.
A presidente da comissão deu as boas-vindas aos presentes, convidando-os para as homenagens da tarde desta terça-feira aos precursores da comissão. “Destaco também o apoio incondicional que temos recebido da diretoria da OAB Paraná”, afirmou Rosângela.
Também presente à mesa de abertura, a secretária-geral da OAB Paraná, Marilena Winter, citou um trecho da Oração da Sapiência “Os sete sapatos sujos”, proferida por de Mia Couto em 2005, em uma universidade moçambicana. A menção ao quarto “sapato sujo”, que trata da ideia de que mudar as palavras muda a realidade, serviu para apontar que o caminho a ser seguido na luta pelos direitos do idoso é o das ações. “Mia Couto descreve um mundo de aparências que é a antítese do que nos propomos a fazer aqui. Desejo a todos uma ótima temporada de debates”, afirmou.
Após a abertura, a procuradora de Justiça Rosana Beraldi Bevervanço proferiu palestra sobre a Lei de Inclusão. Ainda pela manhã, o chefe do Serviço de Geriatria do Hospital Cajuru, José Mário Tupiná Machado, falou sobre Alzheimer, destacando o que é fundamental o cuidado na apresentação do diagnóstico por se tratar de um quatro de demência irreversível (veja quadro).
O tema também esteve presente no testemunho de Bruno Camargo. Ele falou sobre os cuidados dedicados à mãe, dona Isa, que tem 69 anos e recebeu o diagnóstico de Alzheimer aos 65. “Nunca passou pela minha cabeça cuidar de alguém. Mas testemunhei a perda do trabalho dela, a depressão. Enquanto investigávamos, entramos em negação. Foi como um luto, mas em vida. Depois do diagnóstico não vivemos uma fase fácil. Cada um viveu a dor do seu lado. Após um episódio de desaparecimento, resolvemos que um de nós cuidaria dela. Foi uma escolha minha”, relembra. No ano passado, a conselho de uma amiga, Camargo criou uma página no Facebook – Dona Isa histórias para compartilhar – para tratar do tema e trocar experiências com outros cuidadores.
Nesta terça-feira, o evento termina com testemunhos de estudantes da Universidade Aberta da Maturidade (UAM), ligada à UFPR. Amanhã (14) a jornada recomeça às 9h com apresentação do desembargador Mário Luiz Ramidoff. Ele falará sobre discriminação e proteção à pessoa idosa. Veja aqui a programação completa.
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Reflexão
Contra o Alzheimer, leitura, atividade e interação
O geriatra José Mário Tupiná Machado chamou os presentes no evento “O Universo da Pessoa Idosa”, realizado pela Comissão do Direito do Idoso da OAB Paraná, à reflexão: “Podemos ter um envelhecimento sadio, chamado senescência, ou um envelhecimento doentio, chamado senilidade. Vale a pena viver muito? Vale, mas como fazer para viver sem Alzheimer?”, questionou. O médico lembrou que fumo, diabetes, depressão e sedentarismo são fatores que aumentam as chances de Alzheimer. Por outro lado, alta escolaridade é fator de proteção. Não pela escolaridade por si, destacou, mas pela atividade intelectual, associada à leitura, à interação social e ao debate. Também a atividade física e fatores alimentares são protetivos. “Por último, mas não menos importante, temos que ter resiliência, ou seja, paz de espírito. Resiliência é a capacidade de administrar conflitos sem sofrer as consequências negativas. Resiliente é o indivíduo que enfrenta a adversidade e sai dela fortalecido”, explicou. “Temos que festejar a vida, independentemente da idade cronológica. Mas uma vida com dignidade, independência e cidadania”, completou o médico.