Testemunhos de uma mãe sobre adoção partilhada e de uma adotada que foi acolhida com paralisia cerebral e hoje é advogada comoveram os participantes do debate realizado na manhã deste Dia Nacional da Adoção na OAB Paraná. Organizado pela Comissão da Criança e do Adolescente (CCA) da seccional, presidida por Anderson Rodrigues Ferreira, o evento contou com a mediação da advogada Marta Tonin, consultora da CCA, e com a presença da secretária-geral da OAB Paraná, Marilena Winter.
Também estiveram presentes o desembargador Mário Luiz Ramidoff, a juíza Lidia Munhoz Mattos Guedes, a promotora Juliana Gonçalves Krause, o promotor David Kerber de Aguiar, as psicólogas Ana Lúcia Grochowicz Cavalcante e Haryanna de Lima Lobo e a coordenadora da Comissão Estadual Judiciária de Adoção (Ceja), Amélia Reiko Jojima.
Doutora Amélia fez um balanço das adoções internacionais de crianças do Paraná por casais estrangeiros, especialmente da Itália, da França e dos Estados Unidos, destacando o esforço feito para a manutenção do vínculo afetivo nos casos em que há a subdivisão de grupos numerosos de irmãos.
Separação e vínculo
Vanessa Macedo falou sobre sua experiência pessoal com a adoção partilhada. “Minha filha, hoje com 10 anos, chegou na minha casa aos 6, vinda de um grupo de 6 seis irmãos, cada um adotado por uma família, exceto pelo mais velho, que está prestes a deixar o abrigo porque se tornará maior este ano. Uma das famílias adotantes não queria o relacionamento com os irmãos. Na Vara da Infância, a primeira pessoa que procurei disse que não havia o que fazer porque apesar do laço sanguíneo judicialmente não eram mais irmãos. Como não desisti, outra pessoa da Vara deu um telefonema e conseguiu convencer a família relutante a manter o vínculo afetivo. Como se vê, faz toda a diferença quando a adoção é tratada por profissionais vocacionados”, destacou.
O testemunho também incluiu uma defesa veemente da separação de grandes grupos de irmãos, ideia que é alvo de críticas. “No caso da minha filha e seus irmãos, cinco crianças passaram a ter uma família e o vínculo de afeto foi mantido, apesar dos percalços. Mesmo o irmão mais velho, que ficou no abrigo, poderá contar com o apoio de cinco famílias quando sair de lá, dentro em breve. Sem a subdivisão, os seis estariam no abrigo. É muito difícil conseguir a adoção de um grupo tão grande. E a vida trataria de separá-los porque cada um sairia de lá em um momento diferente”, argumentou.
Vanessa também falou sobre o Projeto Encontro, que promove reuniões de crianças de abrigos com pessoas interessadas na adoção. “Até agora foram quatro encontros e em todos as adoções se concretizaram. Mesmo quando não há interesse imediato, o adotante se sensibiliza e tende a aceitar crianças mais velhas”, diz.
Amor e superação
O testemunho da advogada Adriana Denise Teixeira Bezerra também emocionou os participantes do evento. Doutora Adriana, que integra a Comissão da Pessoa com Deficiência na OAB Paraná, contou que logo após seu nascimento, com paralisia cerebral, a família que a adotou foi encorajada a não ter grande expectativa pois ela “não passaria de um mês”.
O desvelo da mãe e o acolhimento da família a fizeram superar tudo a garantir sua formação universitária. “O amor falou mais alto e tive direito não só a uma família mas a toda uma vida. Minha mãe representa o que chamamos de DNA do amor”, contou ela.
Alerta
No encerramento do evento, Ferreira falou a todos sobre a preocupação da Comissão com a reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente em curso no Congresso. O deputado Aliel Machado, relator da proposta, estabeleceu o dia 15 de junho como limite para as discussões na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara, mas ainda não liberou o relatório para a apreciação dos que estão preocupados com o assunto. A OAB Paraná faz parte do grupo de entidades que oficiou a CCJ para que o relatório seja liberado em tempo hábil para análise. Uma dos pontos que o parlamentar pretende alterar, segundo suas próprias declarações, diz respeito às regras para a adoção.