OAB acompanha julgamento do acusado do assassinato da advogada Kátia Leite

Começou na manhã desta quinta-feira (21/7), no Tribunal do Juri de Curitiba, o julgamento do acusado do assassinar a advogada Kátia Regina Leite. Kátia foi morta com cinco tiros no dia 24 de fevereiro de 2010, em decorrência de sua atuação profissional. Por isso, a OAB Paraná acompanha atentamente o julgamento de Vanderson Benedito Correa. Nesta manhã, estiveram no plenário do Tribunal do Júri o presidente da seccional, José Augusto Araújo de Noronha, a secretária-geral, Marilena Winter, o procurador Andrey Poubel, a presidente da Comissão Estadual de Violência de Gênero, Sandra Lia Ledo Bazzo Barwinski, e a presidente da Comissão da Mulher Advogada, Luciana Sbrissia Bega.

Estão previstas ao longo do dia as oitivas de 13 testemunhas, a primeira delas foi o filho da vítima, Carlos Eduardo Leite Ferras. Carlos Eduardo, que hoje é advogado, tinha 19 anos na época do crime. Suas irmãs, Mariana e Juliana, tinham, respectivamente, 20 e 17 anos.

Cadu, como é chamado, começou seu depoimento bastante emocionado. “Naquele dia eu estava acordando e tinha recém ouvido minha mãe sair de casa. Escutei um som forte, até imaginei que eram crianças brincando. Em seguida ouvi o som de uma moto e os gritos da minha vizinha, a Vera, que chamava pelo meu nome. Quando saí, vi o corpo de minha mãe ensanguentado no banco traseiro do carro dela. Liguei para o, Charles, companheiro da minha mãe e chamei a polícia. Minha mãe sempre saía naquele horário, pois trabalhava na Paraná Previdência”, relatou Cadu, lembrando que na noite anterior vira Kátia muito feliz depois de ter ido ao cinema com Charles.

Ao ser questionado pela defesa do réu sobre o fato de Charles ter sido também invetigado como suspeito do crime, Cadu contou que o padrasto e a mãe tinham um relacionamento muito bom. O jovem explicou que a mãe sofria de esclerose múltipla e que Charles sempre cuidou dela e a apoiou, inclusive na educação dele e de suas irmãs. Depois do crime, Cadu soube que Vanderson estivera em uma esquina próxima da sua casa e que Flávio estava em um terreno baldio, também próximo dali, de onde saiu para fazer os disparos que vitimaram Kátia. O atirador efetuou os disparos próximo do rosto e teria se apoiado no carro da vítima. A perícia colheu ali as digitais de Flávio, que também irá a julgamento em data ainda não determinada.

Em seu depoimento, Cadu deixou claro que Vanderson guardava raiva de sua mãe, pois ela havia advogado para Rosana, sua ex-esposa. De acordo com o testemunho, Rosana era espancada por Vanderson. A advogada Kátia tinha conseguido medidas protetivas para que o ex-marido não pudesse se aproximar de Rosana, o que teria desagradado muito o acusado. Cadu inclusive citou a expressão chula que o reú utilizava para referir-se a Katia, fato mencionado também por Charles, segunda testemunha a depor.

Charles foi questionado sobre as inimizades que Kátia teria angariado como advogada. Mas foi objetivo ao dizer que ele era querida por todos. "Em dez anos de atuação que tive como advogado, nunca me senti ameaçado. Não é uma profissão de risco. Mas há, infelizmente, exceções. Charlest também relatou o choque vivido no dia do crime e disse ter conhecimento da mudança dos depoiementos recentes de Rosana, a ex-exposa do réu, para quem Kátia advogava. Para Charles, um acordo de Rosana com o réu é que motivou a mudança.

As duas testemunhas da manhã foram instadas a falar sobre divergências familiares. Ambos relataram que elas ocorriam na medida natural da vida doméstica,  especialmente numa família com adolescentes e pais separados. Charles afirmou que se sente pai dos três filhos de Kátia, que os levava para a escola e até às festinhas. Declarou também que, embora fosse mais próximo das crianças, os três e ele próprio mantinham bom relacionamento com José Luís, pai das crianças, e também investigado pela polícia como suspeito do crime.

Uma das amigas que Kátia que estava presente no julgamento, Isabel Mendes Paredes relatou a dificuldade de reviver os fatos trágicos, mas também a expectativa de condenação. “Não é fácil reviver momentos difíceis, os filhos estão muito emotivos e se resguardando um pouco, o que se pede é que a justiça seja feita”, declarou Isabel.

O presidente da OAB Paraná, José Augusto Araújo de Noronha, disse que o caso chocou toda a classe por ter ocorrido durante o exercício profissional, lembrou ainda que Kátia era muito atuante no Direito de Família e no Direito da Mulher. “Salvaguardas as premissas da ampla defesa e do contraditório, queremos garantir que haja punição para os culpados”, disse. A presidente da Comissão Estadual de Violência de Gênero, Sandra Lia Ledo Bazzo Barwinski, também destacou o fato de que o crime vitimou uma mulher e advogada em atuação. Lembrou ainda que além do crime chocante, uma outra mulher foi vitimada. “A ex-cliente perdeu sua advogada”, disse Sandra.

O doutor Dálio Zippin Filho, tem acompanhado o caso como representante da OAB Paraná desde o primeiro dia. “OAB tem acompanhado como amicus curiae e as provas levam ao entendimento de que o Vanderson foi mesmo o mandante. O significado que a condenação tem para nós é duplo, um pelo fato de ela ser uma advogada em atuação durante o exercício profissional, o outro é por ser um caso de violência contra a mulher. É muito importante combater a violência contra a mulher e acabar com essa postura de machão (sic) que vê a mulher como propriedade dele. É uma vergonha esse tipo de comportamento e, por isso, a OAB está lutando não só pela advogada em atuação, mas também pelo combate à violência contra a mulher.”

 

 

 

 

 

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