O presidente da OAB Nacional, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, encaminhará à Procuradoria-Geral da República (PGR) o relatório que identifica os autores do atentado que vitimou, em 1980, a secretária da Ordem Lyda Monteiro. O objetivo da ação é buscar a responsabilização dos criminosos. Além disso, ele também irá requerer ao Ministério da Defesa um pedido formal de desculpas à família da vítima e à entidade.
“A OAB vai tomar duas medidas. Encaminhar ao Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, o relatório solicitando providências para a responsabilização. E também requerer do ministro da Defesa, Jaques Wagner, pedido de desculpas à família da vítima e à OAB em nome do Estado brasileiro”, disse o presidente da Ordem, Marcus Vinicius Furtado Coêlho, que foi ao Rio de Janeiro para a coletiva de imprensa sobre o caso.
Os nomes dos autores foram divulgados na sexta-feira (11). De acordo com as investigações, agentes do Exército foram responsáveis pelo atentado. As apurações indicam que o então sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany, teria entregado a dona Lyda uma carta-bomba endereçada ao presidente da Ordem na época, Eduardo Seabra Fagundes. A secretaria, ao avaliar o conteúdo da encomenda acabou por acionar o artefato explosivo. Foram necessários 35 anos para que o caso fosse elucidado.
“Esse é um encontro do Brasil com a sua história. Os nossos filhos agora poderão ler por completo esse pesar passado do país, a lembrar que jamais podemos admitir retorno a regimes de ditaduras. Nunca mais a voz única do autoritarismo”, afirmou Marcus Vinicius.
Em sua fala, o presidente explicou que a OAB quer o respeito à pluralidade e à diferença, em uma convivência sem ódio e sem rancor. Para a entidade, a intolerância não constrói uma nação justa e fraterna, pois a democracia pressupõe a liberdade. “Para os males da democracia, apenas um remédio: mais democracia”, disse.
Segundo Marcus Vinicius, a bomba, mesmo que dirigida ao presidente da OAB, foi lançada contra toda a sociedade brasileira e os valores democráticos, vitimando fisicamente d. Lyda Monteiro. “O triste episódio acabou por fortalecer a sociedade brasileira, que lutou ainda mais duramente para a aprovação de uma Constituição da República. Defender as garantias constitucionais é a melhor forma de homenagear a história de d. Lyda Monteiro e consolidar a democracia”, disse.
O caso
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro revelou na sexta que os autores do atentado à OAB eram ligados ao CIE (Centro de Inteligência do Exército): o sargento Magno Cantarino Motta, codinome Guarany, entregou a bomba pessoalmente na sede da OAB; o sargento Guilherme Pereira do Rosário confeccionou o artefato; e o coronel Freddie Perdigão Pereira, que coordenou a ação.
O deputado federal Wadih Damous, ex-presidente da OAB Rio de Janeiro e da Comissão da Verdade, explicou que a elucidação do caso foi possível graças a informações de uma testemunha ocular, que viu Guarany, o único ainda vivo, entregar a carta na sede da Ordem.
O advogado Luiz Felipe Monteiro, filho da vítima do atentado, afirmou que a verdade está devidamente contada e a história, reestabelecida. “Tirei o maior peso que jamais imaginei que conseguisse carregar. Vi meus filhos mais velhos estudarem o atentado da OAB no ensino médio, porém, não havia desfecho nos livros escolares. Agora, os pequenos terão a história completa, com todos os elementos registrados.”
Fonte: Conselho Federal