MANOEL JOSÉ LACERDA CARNEIRO – Conselheiro Seccional

A REFORMA DA ÓPERA

I

Chegando num planeta distante astronautas terrestres descobriram que lá também seres julgavam, acusavam e defendiam outros seres. E que lá também um dia se quis fazer uma gigantesca reforma pois o que existia antes não estava sendo muito bom: nada funcionava, tudo era caro e demorado. Vários projetos foram apresentados, mudando todas as leis e criando leis novas, umas depois das outras. E todos falavam e palpitavam mas nada se resolvia.

II

A estrutura daqueles que se chamavam operadores era antiga de muito tempo: uns julgavam, outros acusavam, outros defendiam, se achavam muito importantes e não queriam ser chamados apenas de julgadores, acusadores e defensores. Faziam questão de ter nome pomposo, que cada vez ficava mais imponente na medida em que o tempo passava e eles ficavam mais intrometidos. O julgador passava a ser julgador-sabido e depois virava ainda julgador-muito-sabido; o acusador passava a ser acusador-sabido e depois virava acusador-muito-sabido; e o defensor se não mudava de nome variava de cara: ia ficando com cara de sabido e com o tempo de muito sabido. Em suma: ficavam todos iguais com o passar dos anos.

     III

A população daquele planeta não estava gostando nada daquilo, mas ninguém conseguia mudar nada, pois os cada vez mais sabidos ficavam mais longe de todos, num enorme castelo. Diziam: – Prá mudar isso, só Deus! Só que num dia Deus ficou cansado e resolveu mesmo mudar. Abriu um buraco no Céu e fez descer no planeta um representante divino, que veio para mudar tudo. Só que tinha um detalhe, que só mesmo Deus – um cara gozador, que adora brincadeira, como alguém já disse – podia imaginar: mandou para lá um louco. O louco disse bem alto: – Julgadores, Acusadores e Defensores. Sou louco, mas não sou burro! E afirmou que três coisas precisavam ser feitas antes de qualquer grande reforma:
-Primeira: as leis que já existiam precisavam ser cumpridas;
-Segunda: ninguém mais vai ser chamado de modo diferente na medida em que ficar mais sabido. Nada de julgador sabido ou mais sabido, acusador sabido ou mais sabido e defensor com cara de sabido ou de mais sabido;
-Terceira: o castelo tinha que acabar e em seu lugar seriam feitas várias casinhas no meio do povo para que cada um trabalhasse bem próximo dele.

E o louco disse para ninguém duvidar: não adianta reclamar que eu conto para Deus que está mais louco do que eu com o que estão fazendo aqui.

     IV

As coisas mudaram, no planeta. As leis começaram a ser cumpridas, as casinhas foram criadas e o sistema começou a funcionar. E ninguém mais ficou sendo chamado de sabido ou mais sabido, pois o louco mandou todo o mundo ter um nome igual: os que julgavam, só Juiz; os que acusavam só Promotor; e os que defendiam só Advogado. Incrível, não é? Coisa de louco … mas divina!

 

Manoel José Lacerda Carneiro
Conselheiro Seccional

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