Representantes da Polícia Civil estiveram na OAB Paraná nesta sexta-feira (8) e detalharam como foi a operação que culminou na prisão dos suspeitos de estelionato que se passavam por profissionais da advocacia e representantes de escritórios paranaenses. Estiveram presente os investigadores de polícia Juliana Nascimento e Estevão Santos Virginio e também o delegado Emmanoel Davi. Confira a seguir a entrevista:
Como tiveram início as investigações?
Emmanoel Davi: Começamos a ter muita demanda de pessoas procurando a Delegacia de Estelionato afirmando que seus [supostos] respectivos advogados entravam em contato pelo WhatsApp. Nessa comunicação, diziam que o processo já estava avançado e que só faltava a vítima pagar uma parcela ou uma taxa para liberar a documentação. As desculpas variavam, eram de vários tipos. Em muitos casos, a vítima, no afã de conseguir já o valor há muito tempo esperado, pagou o serviço ou taxa alegado pelos golpistas. As pessoas ficavam cheias de esperança. Os estelionatários chegavam a colocar código de barras em documento falsificados, como se tivesse sido emitido por um tribunal qualquer. As vítimas pagavam o boleto e depois esperavam o retorno do advogado. Quando percebiam que havia alguma coisa errada, ligavam para o verdadeiro advogado e descobriam que contato usado para emitir o boleto não era do escritório contratado, mas de um falsário.
Como foi a operação? Como chegaram aos supeitos?
Juliana Nascimento: A investigação começou com o afastamento do sigilo bancário dos beneficiários que receberam os valores com o golpe. Notamos que todos eles eram do mesmo estado, o Ceará. Depois, com a quebra do sigilo telemático, conseguimos chegar nas conexões de internet, de onde eram enviadas mensagens para as vítimas. Obtivemos os números de telefone usados pelos golpistas e também percebemos que eram de pessoas do Ceará, de três cidades: Fortaleza, Maracanaú e Pacatuba. A partir daí, fomos agregando bastante informação até o ponto de deflagramos a operação no estado do Ceará.
E havia algum elo entre essas pessoas e algum informante dentro do sistema de justiça?
JN: Não. Não foi identificado com precisão o modo dessa coleta de informações usadas para a aplicação do golpe.
Isso será levantado em uma segunda fase?
ED: Sim. O mais provável é que o ponto de partida para a busca das informações sejam os próprios sites dos tribunais. Se qualquer pessoa fizer uma pesquisa básica nos buscadores, conseguirá saber quais são as listas de precatórios, encontrar os nomes das partes e dos advogados.
Haverá, então, novas etapas da investigação. O que que vem por aí?
JN: Nesse primeiro momento temos prisão de 15 pessoas entre beneficiários e os usuários da internet. Foram apreendidos celulares, notebooks. E agora faremos a análise de todo esse material para tentar entender e chegar às pessoas que estão no controle, para quem estão repassando esses valores e de onde que conseguiam essas informações. Em princípio são pessoas simples, que estavam recebendo dinheiro na conta e repassando para alguém. Queremos chegar nos cabeças da organização.
Além das recomendações que a OAB já tem feito, para que advogados e vítimas denunciem, e para que os cidadãos sejam cuidadosos ao verificar a procedência do advogado que chama, o que mais recomendam?
JN: Eu orientaria os advogados a conversarem com os clientes para não efetuarem nenhum pagamento e para quando receberem mensagem de um número novo entrarem em contato com o escritório para confirmar se realmente de lá que parte a mensagem. Porque os golpistas copiam a foto, a logomarca e a pessoa acha que está falando com o advogado de sua confiança.