O Conselho Federal da OAB promoveu em sua sessão extraordinária desta terça-feira (24/8) uma homenagem póstuma a René Ariel Dotti, falecido no dia 11 de fevereiro deste ano. Ao abrir os trabalhos, o presidente nacional da Ordem, Felipe Santa Cruz, saudou os familiares do professor, que participaram da sessão em formato híbrido – com parte dos conselheiros presentes e parte em videoconferência.
“Com profundo pesar dou início a essa homenagem a um dos maiores advogados do Brasil, um herói da resistência que foi conselheiro federal. É uma ocasião triste, mas também de reconhecimento e gratidão, ainda mais em um momento como este nosso, em que o direito de defesa precisa ser reafirmado em cada comarca do país”, afirmou Santa Cruz.
Um vídeo exibiu trechos de imagens do professor relatando passagens de sua vida, como o nascimento “a 200 metros de onde o Papa João Paulo II rezou missa em Curitiba” e a criação da Sociedade Paranaense de Teatro, com Ary Fontoura. As palavras de Dotti lembraram a importância dos palcos, que o libertaram da timidez e recordaram ainda a vida sob o AI-5 e os anos dourados anteriores à ditadura.
O vídeo lembrou também importantes lições de René Dotti, como a de que é perfeitamente possível conciliar o devido processo legal com a celeridade e a de que prerrogativas não são privilégios, mas garantias fundamentais para os cidadãos.
Coube ao diretor-tesoureiro do CFOAB, José Augusto Araújo de Noronha, fazer a oração em memória de Dotti. Noronha lembrou que a proposição de louvor partiu do advogado Guilherme Batochio. Seu discurso começou com uma frase do Padre Antônio Vieira muitas vezes citada pelo homenageado: “A esperança é a mais doce companheira da alma” (veja abaixo a íntegra da oração).
Ao fim do discurso uma láurea de homenagem foi entregue por Noronha à família Dotti, tendo como portador o presidente da OAB Paraná, Cássio Telles. Outros integrantes do Conselho Federal proferiram também palavras de louvor ao Professor René:
“Convivi com ele desde o início da minha advocacia e fui forjado com ele no contraditório”, destacou Roberto Busato.
“Foi sempre generoso com seus alunos e com os jovens advogado, exemplo de conduta nas suas mais diferenciadas dimensões humanas. É para nós modelo e inspiração e seus exemplos vivem em toda a advocacia paranaense e brasileira”, afirmou Juliano Breda.
“Embora não tenha sido aluno, com Dotti aprendi muitas coisas. Aprendi a defender as prerrogativas com rigor religioso. E também que advocacia e medo são absolutamente incompatíveis”, ressaltou Artur Piancastelli.
“Esta instituição, a partir dos ideais de René Dotti, jamais deve se calar quando vozes se levantarem contra a democracia. Dotti era também um defensor da liberdade”, declarou Flávio Pansieri.
“Para a OAB Paraná é um orgulho ter contado com Dotti entre seus inscritos. Em 1967, sete anos depois da inscrição como advogado, já integrava o Conselho Seccional. Exerceu esse cargo por nove vezes. E fazia questão de sempre integrar a comissão de direito e prerrogativas. Em agosto de 2016, quando foi lançada a caravana nacional das prerrogativas, Dotti fez uso da palavra e conclamou a todos para ´embarcar nas caravanas das prerrogativas de valorização da advocacia, para em missão extraordinária lutar contra todas as formas de hostilidade velada ou de agressão aberta ao advogado´. Em nome dos 77 mil advogados do Paraná, agradeço a homenagem ao ilustre colega”, disse Cássio Telles.
Também manifestaram palavras de apreço os conselheiros Reginaldo de Castro, Gustavo Badaró, Afeife Mohamad Hajj e Cléa Carpi da Rocha.
A esposa de René Dotti, advogada Rosarita Fagundes Dotti, agradeceu a homenagem em nome das filhas e netos. “É muito importante esse momento para nós porque ele tinha grande orgulho em ser advogado”, afirmou.
Rogéria Dotti também expressou gratidão pelas palavras sobre seu pai. Contou sobre do sonho em ser médico, sobre a timidez e a gagueira e sobre as lições de solidariedade recebidas por ele de sua mãe, Adelina. Rogéria ressaltou que o pai foi sempre imensamente feliz na advocacia e que mesmo após completar 80 anos nunca deixou de acompanhar o cotidiano do escritório. “Soube ter humildade para aprender e generosidade para ensinar. De tudo o que aprendi, há duas lições marcantes: coragem e solidariedade. O pai falava na liberdade de não ter medo, para ele a mais importante das liberdades. E sua solidariedade se traduzia no acolhimento e na escuta tão necessários à advocacia. Teve uma vida plena e muito feliz. Continuará a viver em nós”, pontuou, emocionada.
A solenidade foi encerrada com as palavras do neto mais velho do professor, Gabriel Dotti Dória. “Eu não sabia que ele defendia presos políticos; sabia que era o meu advogado quando quebrava vidraças e era meu companheiro para soltar pipas. Com os anos descobri que aquele que me transmitia tanto carinho quando víamos filmes aos domingos era também autor de muitos livros da estante. Descobri o homem que defendia a democracia e os direitos fundamentais. Assim como no carinho aos netos, ele demonstrava amor aos que sofrem. Aquele que me ensinou a brincar com os cachorros e a fazer nó de gravata também deu lições de amor ao próximo, ao igual. Lições de respeito à dignidade de todos”, destacou.
Confira na íntegra a oração proferida por José Augusto de Noronha.